A difícil e complicada arte da comunicação efetiva
- Aloysio Xavier
- 28 de fev. de 2017
- 4 min de leitura
Somos seres sociais. Estamos nisso juntos.
Para conseguirmos viver bem, é preciso uma comunicação efetiva, ecológica e tentarmos assim sermos melhores comunicadores.
Pensamos que quando aprendemos a ouvir e falar, aprendemos a nos comunicar, mas a coisa não é bem assim.
Parece também que estamos empenhados a falar a nossa linguagem, como entendemos a coisa, e não percebemos que o outro tem uma experiência completamente diferente da nossa.

A comunicação entre duas pessoas é reconhecidamente difícil.
Em toda a extensão do universo não existe ninguém que possa sentir e pensar como nós.
Somos tentados a generalizar nossas experiências e sempre esquecemos que o outro não sente e pensa como nós, pois não teve as mesmas experiências que tivemos.
A informação que o outro tem do mundo é sempre diferente da nossa.
A informação, a alimentação, a capacidade de respiração, a audição, a visão, como fomos recebidos no mundo, a gestação da mãe; enfim, toda uma gama de situações de como a criança vê, experiencia e sente o mundo, é relevante.
E vai influenciar sempre, em todas as fases da vida.
Ora, se sentimos e percebemos o mundo aqui fora, de forma diferente, (do outro), essa informação é diferente do outro.
Cérebro, esse grande e precioso computador, que fica dentro de nossa caixa craniana, superprotegido, e também, superdesconhecido, até para nós mesmos, e que mandamos informação, para dentro dele, através dos sentidos; visão, tato, olfato, paladar, e ele analisa os dados recebidos, armazenados , compara, cruza e emite uma resolução de comportamento (de como vamos atuar aqui fora).
Durante toda nossa infância, recebemos informações de escola, livros, revistas, tvs, professores, pais, tios, avós, de incentivo, ou reforço negativo, que irão moldar nosso mundo pessoal.
Por mais que amemos alguém, que nos dediquemos a uma pessoa querida, ela nunca poderá ver uma praia, um quadro, um filme, uma via expressa, uma favela, ou seja, lá o que for, da mesma forma que nós mesmos. As reações, e as interpretações são diferentes.
Por quê?
Qualquer coisa que você vê, sente, escuta, compara sem perceber, com os dados que já tem armazenado (cruza as informações, com a que está recebendo e gera um comportamento) (de acordo com suas experiências pessoais) boas ou ruins.
Portanto, é impossível alguém ver e sentir como nós, pois os dados dela são diferentes do nosso.
Leu os mesmos livros? Tem os mesmos genes? É um clone nosso? Portanto... Qualquer discussão com o outro, ou guardar mágoa ou rancor, porque o outro fez isto ou aquilo, é completamente ilógico, pois o outro tem ponto de vista diferente e nada podemos fazer ou mudar. Só nos resta reconsiderar a realidade dele e as expectativas nossas (que certamente na maioria das vezes não cruzam).
Exemplo: uma praia pode lembrar coisas agradáveis e bonitas. Mas, se por acaso, a pessoa quase morreu afogado um dia no mar, vai ver de forma diferente, é claro.
Outro exemplo bem ilustrativo: uma parede branca.
Um jovem de 25 anos, com saúde, sem problemas de visão, vai ver a parede branca.
Um jovem de 25 anos, com problemas de visão, sem lentes corretas, certamente vai ver a parede menos branca.
Um jovem de 25 anos, deprimido (o branco não estava tão branco, estava escuro).
Um jovem feliz amando, o branco estava branquíssimo.
Portanto, a visão, que a rigor deveria se clean, varia de acordo com nossas emoções, nosso humor, nosso estado de espírito no momento. Tudo altera a percepção (não esquecer nunca).
Audição: O assustado ouve tudo.
O nervoso ouve o que nem fez barulho. Ouve o inaudível.
O tranquilo percebe o barulho bem depois. E assim por diante.
O desligado não ouve nada.
Porém, sabemos que crianças criadas sozinhas ou abandonadas, sem estímulos, evidentemente, na vida adulta terão mais dificuldade de percepção.
Crianças, criadas com vó, mães ou alguém que cozinhava bem, terão sempre paladar mais acurado, e sentirão sempre melhor o cheiro das comidas. Quem não se lembra do cheiro de um bifinho, quando chegava da escola? E o cheiro de doce no fogão, na casa?
Crianças que ouviram música na infância, pela vida afora, terão mais condições de perceber ritmos, sons cadências etc. Os que tiveram experiências no mato, nas selvas sabem que qualquer som ou ruído, pode ser a diferença entre a vida e a morte.
Portanto, histórias de vida, experiências, genes, condições saudáveis dos cinco sentidos nos fazem ter uma identidade única.
As substâncias químicas que nos alteram, a um toque de pensamento, os receptores celulares esperam por mensagens químicas, que podem ser mudadas e com um pouco de conhecimento, teremos a oportunidade de viver melhor com nosso dna.
A natureza não nos fez ignorantes acerca de nosso eu mais profundo, e qualquer insight, qualquer informação de uma realidade, mais profunda, leva consigo, um enorme poder modificador, poder de esclarecimento.
A vida fica sem dúvida mais valiosa, mais leve, menos dramática.
O mergulho dentro de nós mesmos, buscando uma realidade maior, e uma compreensão das gerações que nos antecederam, na escala filogenética, nos ilumina nessa jornada de “existir”.
Só resta então trazer à mente o conhecimento objetivo, para que ele possa trabalhar de forma subjetiva, transcendendo o ego.
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